O tal respeito
Acredito em Deus, sou
cristão católico e professo a minha fé perante a minha religião. Até reconheço
que deveria fazê-lo melhor, com maior intensidade, mas todos os dias agradeço a
Deus pelas muitas bênçãos que recebo, e diariamente peço-Lhe paz, saúde e
felicidade para mim e para os meus. No entanto, respeito quem diz professar
outra religião e quem até se diz ateu, agnóstico, descrente. Na verdade, até
rezo silenciosamente por estes, lembrando-me sempre da parábola do pastor de
ovelhas, que ficou muito feliz ao encontrar o animal perdido, cuja essência
consiste no ensinamento de Jesus Cristo de que se deve buscar sempre aquela
ovelha que está fora do rebanho. Enfim, respeito evangélicos, cristãos
ortodoxos, cristãos anglicanos, islâmicos, ateus, etc.
Sou heterossexual e
apaixonado por minha esposa. Porém, respeito qualquer opção de sexualidade de
outrem, por entender que não é a sexualidade de alguém que irá definir o seu
caráter. Aliás, a pessoa sem-caráter ou de mau-caráter pode ser homem, mulher,
heterossexual, bissexual, homossexual, ou de outro gênero. Não concordo com o
exibicionismo que se possa ter ou fazer em nome da sexualidade, seja de qual
for o gênero ou opção sexual. No mais, respeito.
Etnicamente sou negro,
graças a Deus, e tenho grande orgulho disso. A menor exibição ao sol até me
rendeu uma cor meio parda, mas continuo negro, de sangue e de alma. Se meu
bisavô Manoel Fernandes Jales era branco, a genética de minha bisavó Maria
Cândida de Almeida preponderou em grande parte da descendência de nós do Junco
de Cima. Meus pais não eram brancos. E, por ser negro, sofro com a pequenez
daqueles que ainda acham que a cor da pele é critério diferencial, que ela determina
quem é melhor ou quem é pior. Ainda sofro com o pensamento retrógrado de quem ainda
escuta o chicotear na pele do negro no pelourinho armado em praça pública ou nos
arredores da senzala ou da casa grande. Ainda me dói ver corriqueiramente serem
noticiados na grande imprensa casos de ofensas raciais. Enfim, ainda falta, a
nós negros, o devido respeito.
Sou trabalhador, graças
a Deus. Aliás, venho de família humilde e de trabalhadores e na minha célula familiar
tenho uma esposa que trabalha, e muito. Orgulhosamente podemos dizer que nosso
pão, abençoado por Deus, é suado. E respeito toda e qualquer forma de trabalho
honesto, que garanta ao seu executor não apenas o alimento, mas a própria
dignidade.
Casei-me pela segunda
vez, e graças a Deus tenho quatro lindos filhos, sendo três biológicos e uma
decorrente da afetividade, algo hoje em dia até reconhecido pelo Poder
Judiciário como elemento de constituição de parentesco.
Irrestritamente,
procurei educar esses filhos com base nos valores sociais, morais e religiosos
que acreditamos, ensinando sempre o que é correto, para que ao longo da vida possam
diferenciar e se afastar do que é errado. Nessa educação, está inserido o
respeito que se deve ter na vida em sociedade.
Vivo por eles, para
eles, pensando neles, sempre agradecendo a Deus pela família que Ele me
permitiu constituir. De todos os desrespeitos que podem me atingir, mais me dói
aquele que vier a atingir a minha família.
E digo isso porque,
nessa vida, parafraseando um velho amigo poeta e escritor dos bons, não me
sinto melhor nem pior do que ninguém, mas exatamente igual.
Infelizmente, porém, ainda
há aquelas pessoas que se acham melhores ou maiores do que outras. Para
disfarçar, inventam subterfúgios, mas no fundo se comportam com indiferença por
se acharem melhores. Outros nem disfarçam, e simplesmente se acham melhores que
seus pares sociais.
Enfim, está faltando o
tal respeito.
Dedico esses
pensamentos vagos aos meus filhos, por quem tenho, além do amor, enorme
respeito, para que ao longo da vida também se comportem com ele, o respeito,
sempre na obediência ao Senhor Nosso Deus. Aliás, o respeito é próprio de quem
ama, pois não se admite amor sem que haja respeito.
Em nome desse respeito,
nem pisem, nem se deixem pisar; nem se sintam melhores do que ninguém, nem
também menores do que ninguém, mas exatamente iguais.
De qualquer forma, perdoar é preciso, afinal, somos cristãos.
E que Deus nos abençoe!
Alcimar Antônio de
Souza
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